Os peixes maiores sempre vencem

 

Era o meu aniversário. Como presente, da mulher que mais gostava havia ganho embrulhado em 

papel de presente, enfeitado com fitas e laços que só os vendedores sabem fazer um aquário. Naquele 

viveiro de peixes estava um dourado esbanjando graça e leveza, acho que até satisfeito com o novo 

dono que haviam lhe dado. 

Coloquei-o em cima da geladeira, acreditei ser um bom lugar, confortável. Tratei logo de providenciar 

o seu alimento a fim de que se tornasse forte e ficasse ao meu lado como amigo, já que vivia sozinho

 e sofria pelo amor de uma mulher. A todo instante dirigia-me até a geladeira e botava-me a conversar 

com o meu companheiro, eram altos papos.  Ficava observando-me, lendo meus lábios. Ele nunca 

houvera sofrido por amor.Alguns meses depois ganhei uma fêmea da mesma espécie do peixinho,

 meu amigo. Aos poucos foram se acostumando, ambos navegando pelas águas límpidas do aquário,

 lado a lado. Produziram uma extensa família, eram felizes.

Fui me acostumando com os novos habitantes do aquário, mas não podia mais me comunicar com 

meu amigo peixe, pois sua esposa fazia marcação cerrada.

Uma irmã me deu um peixe azul, forte, robusto, e que resolvi improvisá-lo no m esmo aquário. 

O dourado não gostou. Seria ele racista, pois o rival era de outra cor? Ou seria ciúmes de sua

 fêmea? Fiquei com a ultima alternativa.Ambos travaram uma longa e dolorosa batalha. O azul

saiu vitorioso, pois o dourado não pode resistir  à força do primeiro e seus filhos nada puderam

fazer, pois eram menores. A fêmea encantou-se com o robusto azul.

 Não só os peixes menores que sofrem por amor, os peixes maiores, os homens, lutam por seus

amores e os fracos acabam perdendo para os mais robustos, ou seja, para os mais ricos.

 

Sérgio Augusto Sant'Anna